Em postagem, uma pessoa de minhas relações, também no facebook, anota que Judas entregou Jesus aos soldados do Templo, por trinta moedas.
Desde que comecei a entender-me de gente, aprendi uma palavra interessante: ‘entreguista’. Referia-se a pessoas que, usavam o seu metier para favorecer que estrangeiros se apossassem do Brasil. Assim, na vida da escola e na escola da vida, foram muitos os personagens da política que recebiam tal rótulo. Havia, como ainda há hoje, uma corrente nacionalista defensora das riquezas nacionais, desde algumas palavras (saudade) até o que está no subsolo. Essa discussão que estava estampada nos jornais diários foi parte de minha educação. Amar o Brasil, amar o povo brasileiro, confundir minha vida com a história de minha pátria, foram lições que aprendi antes dos catorze anos. Naquela idade assisti, vaca de presépio, uma ‘revolução’, um Golpe de Estado, ensinei depois, que usava a pregação de proteção às riquezas do Brasil e que lutava contra os comunistas entreguistas, que, lembro, em grande parte tinham um discurso nacionalista, embora fizessem parte de uma filosofia teleológica internacionalista.
Durante o período da ditadura iniciada em 1964 duas lutas, pelo menos, ocupavam parte de minha geração: a luta pelo entendimento dos Direitos Humanos – fortalecendo a noção de cidadania e a busca do reconhecimento dos pobre como seres humanos – e a luta contra os cartéis e as multinacionais. A ditadura dos cartéis, de Kurt Rudolf Mirow: Cartéis e Desnacionalização, de Moniz Bandeira, Victor Pacheco que escreveu sobre a entrega da saúde às multinacionais, e outros, orientavam nossos debates. Projetos internacionais colocavam em risco a Amazônia, e as fronteiras culturais abertas nos faziam esquecer e negar aspectos essenciais de nossas tradições. Daí havia um grande debate sobre Identidade Brasileira, Civilização Brasileira. Sentia-se que algo estava a se perder. Vendia-se o Brasil por mais de trinta moedas.
Derrubamos a ditadura mas o povo não se apropriou do Brasil; parece ter enveredado por outro caminho, o caminho do desconhecimento de si mesmo. Aumentou o quantitativo de unidades escolares, mas diminuiu pouco o número dos leitores críticos. Aliás a palavra ‘crítico’ passou a ser sinônimo de ser contra o capitalismo ou, o que é mais comum, antiamericano. extrapolar esse sentido era correr o risco de massacrado socialmente, especialmente a partir dos primeiros anos do novo milênio. Mas ser ‘anti’ alguma coisa é uma postura negativa, e não leva necessariamente a ser pró outra coisa.
Grupos ditos nacionalistas, defensores do povo brasileiro chegaram ao poder no início do século XXI. Como são nacionalistas, não entregaram o Brasil às multinacionais, preferiram a Odebrecht. E não só por trinta moedas. Judas aumentou seu valor de mercado.