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EM DEFESA DO POVO BRASILEIRO NOS CASOS DAS UVAS GAÚCHAS E DO AÇÚCAR PERNAMBUCANO.

sábado, março 4th, 2023

EM DEFESA DO POVO BRASILEIRO NOS CASOS DAS UVAS GAÚCHAS E DO AÇÚCAR PERNAMBUCANO.

Prof. Severino Vicente da Silva

ORCID  000000189111409

Viver , parecer ser surpreender-se cotidianamente com as manifestações da vida e os desejos da morte, essas pulsões básicas que S. Freud nos desvendou. Saber dessas forças antagônicas que carregamos, nos auxilia a compreender alguns comportamentos, algumas tendências que vemos ao nosso redor e, às vezes, dentro de nossa própria alma. Seja de nossa alma individual, seja a coletiva que, aparece de múltiplas formas em nossas fidelidades a esse ou àquele grupo. Não poucas vezes vivenciamos esse antagonismo pois que pertencemos a muitos grupos simultaneamente. Pertencemos a um grupo nacional e, nele sentimos o quanto alguns dos nossos sócios nos temem e, por isso, procuram nos diminuir, destruir o que construímos.

Nesta semana tivemos o caso de um vereador de uma cidade do Rio Grande do Sul, talvez descendente de algum europeu que chegou aqui no Brasil após 1870, puxando uma corda pensando que ele ainda possuía uma cachorro. É que lhe haviam tomado tudo, menos a imbecil ideia de que havia um “fardo do homem branco”, como dito pelo poeta Rudyard Kipling, condenado a distribuir civilização e ganhar ódio por isso. É que a civilização que levavam a quem não desejava, estava carregada de cobiça e ódio. A cobiça destruía a riqueza dos lugares aonde chegaram e o ódio fez aforar a mais funesta forma de destruição humana: o racismo, a negação da humanidade do outro, como cultura. Arraigado aos modos de pensar dos séculos anteriores, quando os europeus, em busca de riquezas espalharam a morte nas terras e nos mares nunca antes conhecidos, aquele vereador da cidade de Caxias do Sul, quis justificar a prática da utilização do trabalho escravo nos vinhedos do Sul Maravilha, acusando-nos, “os de lá cima” de sermos um povo que gosta de festa, praia e tambor. Sim, nós gostamos disso, pois amamos a vida e sua pulsão, mas não fazemos apenas isso, como os trisavós do vereador constaram ao chegar nesta terra e foram ajudados a nela se fixarem e viverem. Fizeram isso, mas não se despiram dos conceitos tendentes à morte. Como seus antepassados tinham escravos, viviam em uma sociedade escravocrata, fortaleceram, quem sabe, as más lições que aprenderam do outro do Oceano, pois foi a escravidão, como método, um dos principais fatores da riqueza europeia. Este mesmo vereador, ao ver-se interpelado pela sociedade por conta da sua defesa da escravidão e do preconceito contra o Brasil e os brasileiros, veio pedir desculpas e chorar lágrimas de crocodilo, mas não pediu desculpa quando, algumas semanas passadas, acusou os Ianomami de preguiçosos e responsáveis pela morte das suas crianças, pois defendia os garimpeiros que destruíam a fauna e flora dos rios e da floresta. Como não foi pressionado ao atacar os indígenas, senhores primeiros dessa terra brasileira, sentiu-se à vontade para atacar os brasileiros, especialmente os do Norte e Nordeste. Seu racismo, o seu ódio ao Brasil é visceral, estrutural. Ele é incapaz de ser um humano, pois nem soube seguir a orientação de seu advogado que o mandou chorar, ao contar a vergonha que alcançou toda a sua família. Quem odeia não chora.

Mas esse ódio ao brasileiro não exclusividade de parte da população do sul do Brasil, esse ódio ao que o povo pobre cria, apesar de todo o sofrimento e exploração a que tem sido submetido desde que os europeu trouxeram a cana de açúcar e iniciaram o processo de escravização dos indígenas e dos africanos. Sempre lembro que um famoso e amado escritor ficou estupefato com a beleza de cores e movimentos dos caboclos de Tracunhaém surgindo em uma pequena elevação. Na Ocasião disse que era incompreensível que, após tantos anos de exploração, o povo ainda criasse tanta beleza. Ele poderia ter dito: após termos explorado esse povo durante quinhentos anos, como é possível ele ainda está com tanta vida, com tanta criatividade. Pois bem, Valéria Vicente revela em um de seus livros, que famoso colunista social acusava os caboclos do Maracatu Rural de levarem o cheiro de urina e mal gosto de suas fantasias para o carnaval do Recife. Dez anos depois, de muitas lutas e demonstrações de vitalidade, o mesmo cronista, no mesmo jornal, saudava os Maracatus que chegavam da Zona da Mata, especialmente de Nazaré da Mata, pois que traziam com os seu chocalhos, com seu vestuário colorido e alegre, um novo vigor ao carnaval da capital. O povo, os caboclos da Mata Norte, venceu o preconceito do cronista da elite conservadora de Pernambuco. E o que temos hoje em Nazaré da Mata, município que desse sua manutenção à cultura imaginada e criada pela dança dos caboclos que afirmam sua presença desde que seus antepassados, em guerra, perderam suas terras para um povo que, em diversas ocasiões, não cumpria o que havia sido acordado. Os Caboclos de Lança fizeram renascer o município de Nazaré da Mata e muitos outros da região, por isso o governo estadual cedeu terra para um monumento ao Caboclo de Lança, reconhecido como símbolo nacional na capital da Inglaterra, anunciando as Olimpíadas a serem realizadas no Brasil; um artista criou belos caboclos gigantes que foram cobertos de azulejos pela mulheres da Associação das Mulheres de Nazaré da Mata. Um espaço para os Maracatus, para os caboclos que são os cortadores de cana, os criadores das duas principais riquezas do município e da região. Mas a elite local, ignorante e pouco versada na história do seu país, ou mesmo envergonhada do povo que a alimenta, fez eleger um prefeito que, durante o carnaval, mandou avisar por de seus secretários – terá sido o da cultura? – que o monumento aos caboclos, ao maracatu, aos trabalhadores rurais será destruído para construir um “parque de eventos”. Talvez ele esteja pensando trazer, para o “seu parque de eventos”, algumas atrações que são exatamente isso: É VENTOS.

Ao caso do racista do Rio Grande do Sul, cabe processos jurídicos. Que ele seja punido no rigor da lei para aprender a ser gente e não envergonhar seus pais, e seu país. No caso de Nazaré da Mata, devemos pedir a intervenção do Secretário de Cultura do Estado que defenda o patrimônio cultural da região. Talvez o secretário de Educação possa ser chamado para que o prefeito e seu secretariado assista algumas aulas (debates) de história da região e do Estado, mesmo sabendo que cimento duro não absorve água.  

Bibliografia

VICENTE, Ana Valéria. Maracatu Rural: o espetáculo como espaço social. Recife: Associação Reviva, 2006.

https://ensinarhistoria.com.br/o-fardo-do-homem-branco-exaltacao-do-imperialismo/

O sol e os preconceitos

sábado, outubro 23rd, 2021

O SOL QUE É PARA TODOS E OS PRECONCEITOS

Severino Vicente da Silva

O sol começou forte neste dia 23 de outubro, e já tem a sensação que o meio dia chegou com antecedência de seis horas, na praia alguns pescadores conversam enquanto a maré faz o seu refluxo. Encontro pessoas que, com balde na mão saíram em busca de arrastões, onde possam catar os peixes desprezados pelos pescadores. Mas parece que deixaram suas casas em horário desfavorável, pois não há sinais de arrastões nem sobra de peixes. Embora seja uma praia bastante frequentada por quem nela tem casa de veraneio, esses ainda não saíram para a caminhada que os médicos indicam aos urbanoides sedentários. Contudo, os donos de bares, como todos os comerciantes, exercitam a virtude da esperança, estão organizar as barracas e cuidarem para que o fogão comece a preparar os petiscos que acompanharão as cervejas. Cedo ou tarde virão os visitantes, os que buscam o barulho das ondas do mar como calmante para o dia. Sorrio ao pensar que logo alguém ligará “o som” e a praia ficará barulhenta, o que dará, aos praieiros de fim de semana, a sensação que estão em casa. Canções bregas alegrarão algumas orelhas. No meu tempo mais jovem, escutávamos, com a mesma sofreguidão, as canções de bossa nova e protestos. O sol começa a incomodar mais que oferecer prazer e caio n’água em busca de refresco para o corpo e alma.

A alma, essa força que anima os corpos que dizemos vivos, está conturbada por ter escutado que tem aumentado o número de assassinatos com arma de fogo desde a facilitação para porte e posse de armas no Brasil. Considerando que assassinatos desse tipo ocorrem na Europa em proporção mínima, surpreende que, entre 2019 e 2020, a taxa de homicídio por armas de fogo cresceu em 72%.[1]  E os mortos são principalmente jovens e, em sua maioria, jovens negros, habitantes das periferias das cidades, pois que há uma relação, quase fatal, entre ser pobre e pretos neste país. Claro que, desde o tempo do império escravocrata, houve negros ricos, alguns enriquecidos com comércio de escravos após terem conseguido a carta de alforria, mas, o comum é que os pretos sejam pobres no Brasil, embora não sejam eles os únicos pobres, pois há brancos, índios, mulatos, pardos, curibocas. Sim também há mulatinhos que escaparam da pobreza e miséria. É que, em determinados momentos de nossa história, com relatos de muita pobreza, tivemos e temos bolsões de miséria. Tal realidade é vista? Há quem não consiga ver, perceber o sofrimento, a fome, o desemparo social de parte dos brasileiros, pois que naturalizaram esse fenômeno, só conhecem, quando o conhecem, em leituras rápidas no tempo de estudante. Depois, entram na bolha de seu grupo social que passa a ser o seu mundo, o mundo que ele vê. Assim, escutamos algumas dessas pessoas, vez por outra, virem a público dizer que no Brasil não há preconceito de raça, não racismo. Alguns estão começando a dizer que se há racismo e preconceito, é dos negros contra os brancos. Que vista social embaçada pela educação centrada em si mesmo.

Talvez essas pessoas, ainda que bastante escolarizadas, portadoras de diplomas, comendas e honrarias, jamais pararam para refletir sobre o significado da palavra Preconceito, não perceberam que sua atuação na sociedade está marcada por conceitos que elas internalizaram antes de experimentarem a situação social e, quando entraram em contato com algum negro, ou pobre, agiram a partir do que lhe disseram e não a partir de sua experiência. Não tendo refletido sobre suas experiências, passam a viver com os conceitos que lhe conferiram anteriormente às suas experiências. É assim que somos orientados por preconceitos, sendo um deles, a perversa ideia de que há grupos humanos social e naturalmente superiores aos demais, e, para confirmar essa diferença, definiram grupos humanos em raça, e daí cultivaram o preconceito racial que, com outros fatores, passou a justificar a dominância de um grupo sobre o outro.

Mas se esse comportamento foi adquirido sem esforço, superar os preconceitos de raça, religião, social, exige enorme esforça individual e social. Os preconceitos não podem ser superados individualmente, sempre é uma tarefa social e dolorosa. Social, pois os indivíduos não vivem isolados, mas em grupos, coletivamente; doloroso, pois a retirada de um tumor, por menor que seja, envolve todo o organismo social.

O mês de outubro é, para os católicos, dedicado à Senhora do Rosário que, por injunções históricas diversas, foi escolhida para acolher os africanos que chegavam à Portugal como escravos e, por medo de serem confundidos com os africanos, os portugueses “brancos” preferiram deixar o edifício da igreja para os negros. Assim nasceram as Irmandades de Nossa Senhora dos Homens Pretos, resultado de uma ação negativa dos portugueses católicos brancos que continuaram a rezar o Rosário em outro edifício igreja e, de uma ação positiva dos africanos que se tornaram católicos, assumindo os compromissos necessários para viver na sociedade católica lusitana. Mas, o que começou como esforço de integração, por causa do medo e dos preconceitos geradores de novos medos, fortaleceu-se a divisão, o sofrimento. 

NOSSA SENHOR DO ROSÁRIO

AUTOR: Roberto Malvezzi

Nossa Senhora do Rosário
Remanso se reúne prá cantar
E canta em cada conta do rosário
O rio de suas dores
Esperanças e louvores

Acolhe o povo que é migrante
Eterno retirante
Das secas, das enchentes
Doentes e penitentes
Ave, ave, ave, Maria
Ave, ave, Maria
Ave, ave, Maria
Maria do Rosário

Acolhe a terra e os lavradores
O rio e os pescadores
O povo que agradece
Acolhe a praça em prece
Ave, ave, ave, Maria
Ave, ave, Maria
Ave, ave, Maria
Maria do Rosário

Fonte: LyricFind


[1] https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2021/07/15/aumenta-o-numero-de-mortes-por-armas-de-fogo-no-brasil-em-2020-diz-relatorio.ghtml

Um capitão, o outono triste

quinta-feira, maio 6th, 2021

Que outono difícil estamos vivendo, este segundo outono da pandemia, do convívio com o vírus descoberto em 2019, ano que lhe deu o sobrenome. Sim, este vírus apoderou-se do ano e tem se apoderado da vida de muitos em todos os países, em todas as camadas e classes sociais, em todos os gêneros e sexos, em todas as etnias e gente de todas as cores. Como uma divindade ele está presente em todos os lugares. Alguns o temem, outros apenas sorriem e o chamam de “gripezinha”, algo que não afeta os atletas. Há mesmo quem acredite nessas “verdades”. Em nosso país já morreram mais de 411 mil pessoas, enquanto os dirigentes discutem se vai haver golpe de estado, pois o capitão, que se julga rei, mandou dizer que o voto tem que ser impresso enquanto as comunicações do governo são realizadas por meios mais modernos. Meios que escapam do controle do senhor rei, que tem muitos amigos nas milícias e tem promovido a venda de armas no país, uma venda sem o controle do exército que parece ser controlado por ele, não pela Constituição.

O outono, essa estação marcada pela queda das folhas que servirão de alimento para as árvores e os animais que a circundam, agora aparece como presságio de golpes, como as serras que destroem as florestas de norte a sul, sob os auspícios do ministério do meio ambiente, um ambiente de muito agrado aos madeireiros ilegais. Hoje mais um funcionário público (este ser abominado pelo capitão e seus generais amestrados) foi assediado em sua repartição por ter cumprindo o seu dever de funcionário público, defender o patrimônio público. Essa gente no poder só deseja defensores do seu patrimônio.

Mas, como cortam árvores, ceifam-se vidas. Hoje tivemos mais uma ação escandalosa da guerra civil, não oficial, com a morte de 24 pessoas na favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro. A favela é filha da desordem criada desde o tempo que os portugueses dominaram este pedaço do continente, mas que tem sido fortalecida pelos herdeiros dos colonizadores, o que já está bem explicado por historiadores de diversas correntes teóricas, e, contudo, nunca levado a sério pela sociedade que paga os estudos realizados. Esta situação geradora de miséria tem sido fortalecida recentemente, e é uma miséria física e moral que cresce à medida que são diminuídos os esforços de expansão educacional. Desde os anos setenta do século passado que já era sentido um declínio da qualidade educacional e, podemos inferir, a partir de muitas pesquisas, que nisso há uma relação com a universalização da educação escolar. Ampliou-se o número de escolas, promoveu-se a desqualificação do magistério, restringiu-se os espaços escolares, e as escolas construídas nas regiões mais pobres são desprovidas dos benefícios e das facilidades ofertadas pelo mundo moderno. Então amplia-se o fosso, aumenta-se a altura dos muros que separam as classes sociais, as populações. Muros que separam ricos de pobres não são um invenção do ex-presidente norte americano, basta olhar fotografias de Jacarezinho, encurralada entre dois muros.

Quem assistiu o relato televisivo dos acontecimentos em Jacarezinho, pode verificar, sem dificuldade, a divisão social exposta na diferença de fenótipo dos apresentadores, repórteres, autoridades oficiais, coordenadores de ONGs e os moradores de Jacarezinho. E aqui não há nenhuma personalização, mas uma constatação do resultado do modelo civilizacional que os brasileiros herdaram e cuidaram de aperfeiçoar, apresentando-se como um povo alegre, carnavalesco, cordial.

Talvez devamos voltar a ler, refletir criticamente a tese do brasileiro como um homem triste, que convive e sofre a violência diária, violentando-se ao negar o sofrimento. Como dizem alguns versos de canção popular “cantando eu mando a tristeza embora”. Mas ela não irá enquanto continuarmos a manter e criar favelas.

Prof. Biu Vicente

Todos os Santos

domingo, outubro 28th, 2012

Final de outubro. Aproxima-se o dia da celebração dos mortos. Vem logo depois da celebração de Todos os Santos. Interessante é que essas festividades criadas na Idade Média se mantém até nossos dias. E neste final de outubro recebo carta que celebra um pouco a morte julgando louvar a vida. Amigo que diz respeitar o presidente do Supremo Tribunal Federal faz questão de  ironizar o  Ministro Barbosa, chamando-o de “sumo sacerdote” que imolou o “bode expiatório” José Jesuíno. Fico pensando se ele ironiza o Ministro Barbosa por ter feito a acusação aceita por Aires Brito, que meu amigo respeita, ou se o ironiza por ser o negro que não se submeteu aos caprichos de Lula que pensa poder zombar das instituições brasileiras. Meu amigo zomba de um negro, que lutou contra todas as injustiças e se tornou uma personalidade respeita, não por ser serviçal dos poderosos mas por sua competência, ao mesmo tempo que honra a quem respeita aquele que ele não honra. Quase desponta envergonhado o racismo na defesa do indefensável. Triste sina essa que discursa a morte, induzindo ao erro, de maneira erudita, aqueles que não se debruçam com calma sobre o que escutam e leem. Escrevo sofridamente essas linhas, lembrando que não ocorreu o julgamento da vida e José Jenuíno, mas o fato de que ele, que foi honesto em sua vida, como ao testam todos os que o conheceram, mas o ato que ele não fez: recusar por a sua assinatura em documentos que fraudaram a confiança dos brasileiros. Este e suas consequências é que foi o objeto do julgamento que o país acompanhou.  Como ficou demonstrado pelo ministro que não abdicou de sua liberdade para honrar falsos deuses, os ídolos defendidos pelo meu amigo, tal como os sacerdotes de Baal não suportaram o calor do fogo de Elias, esmaeceram-se nas análises feitas pelo Ministério Público.

Como disse meu amigo, a teoria do Bode expiatório sempre tem sido historicamente utilizada para ocultar a verdade, defender impedir que seja sacrificado o verdadeiro criminoso. Mas, se for verdade que José Jenuíno seja um bode expiatório, a quem seu sacrifício oculta? Quem seria o verdadeiro responsável?

Então, neste início de novembro, vamos dar mais atenção ao dia de Todos os Santos, eles não são “bodes expiatórios”, eles são os que constroem o mundo vencendo as dificuldades diárias, algumas delas impostas a eles como se fossem a sua defesa.

 

 

Defendendo minha mestiçagem

segunda-feira, outubro 15th, 2012

 

Outubro já está na metade e comemoramos o Dia do Professor, atualmente coincidente como Dia do Comerciário. Na verdade, todos os comerciários tiveram professores e professores visitam os espaços onde trabalham seus ex-alunos. Os dias e as pessoas encontram-se. Mas, o final de outubro anuncia que novembro vem chegando e  ele vai completar as sandices do mês que está em sua segunda parte.

Após ser condenado pelo Superior Tribunal Federal, o cidadão José Jenuíno fez o que deveria ser feito: pediu afastamento do cargo de conselheiro ou assessor do Ministério da Defesa. Mas, para a nossa surpresa, a presidente não concedeu a exoneração. Assim temos a evidência de que uma pessoa que jurou respeitar e proteger as instituições e leis do Brasil está cometendo perjúrio e deveria ser afastada da sua função por leniência, creio. Posso estar enganado, mas a presidente do Brasil deve honrar as leis do país, se não o fizer ela está destruindo a confiança que essas instituições merecem. É obrigação dela cumprir as normas do país. Ou será que essas leis servem apenas para os pobres? Ou para aqueles de quem a presidente diverge?

Nesse aspecto de cumprir o que está dito na constituição, especialmente no que concerne sobre a igualdade dos cidadãos, o mês de novembro parece que vai ter novidade, uma vez que a presidente atual, gerente provisória do Brasil, pretende estabelecer cotas raciais para cargos públicos. Creio que tem algo errado neste raciocínio. Lentamente vai sendo construído um apartheid neste país. Eu que sou mestiço, como a maior parte dos brasileiros, estou me tornando invisível. Não que eu queira ser julgado pela cor, pois essa situação me acompanhou sempre: não sou branco nem sou negro, então não sou nada, sou apenas brasileiro. Mas, ainda bem que sou concursado e funcionário público, não pela cor (ou decaimento ou sujeiramento dela). Esse discurso que está tornando-se oficial é muito perigoso. Esconde as realidades, e acaba com a obrigação de efetivamente fazer as mudanças na estrutura do serviço público de modo a permitir boa educação, bom ensino, boas condições de moradia, bons serviços de esgoto e saneamento, etc. Essa ideia de pagar dívidas históricas é tão mixuruca quanto as “bolsas ditaduras” que foram criadas e dadas aos que pegaram armas nos anos sessenta a oitenta. Quem está pagando essas bolsas é o imposto recolhido em cada quilo de feijão consumido. Mas além de sofrermos a ditadura civil-militar, temos que pagar os “nossos libertadores” que, agora estão querendo libertar-me da minha mestiçagem, impor-me negar minha história, minhas tradições, minha cultura. E tudo isso está sendo feito sem qualquer debate ou consulta à sociedade. E ficamos todos silenciosamente assistindo a destruição de nossa Constituição.

Como professor resisto a essa compreensão da história. Entendo que a maneira correta de se pagar essa dívida é que cumpram-se as leis que já existem e que não mais se criem artimanhas – com o nome de leis, projetos, ou qualquer coisa – que evitam as mudanças que desejamos de verdade.