CARNAVAL – O PAÍS DA COCONHA

CARNAVAL ou o PAÍS DA COCONHA

Prof. Severino Vicente da Silva

Estamos em pleno carnaval, esta grandiosa festa que tem crescido de importância nas últimas décadas, este início de século. Paralelamente tem crescido também o número daqueles que afirmam acreditar em uma divindade que falou, ainda fala, através de livros sagrados, devidamente analisados e traduzidos por pastores cada dia mais envolvidos com temas mais relacionados com banqueiros que os bancos das igrejas. Talvez as igrejas sejam as novas e principais casas bancárias, com gerentes competentes, divinamente competidores pelo controle de almas perdidas, que desejam ser controladas por alguém ou algo. Estamos em pleno carnaval e, olhamos ao lado e vemos pessoas sempre a sorrir, com os olhos em ação permanente na busca de outras pessoas. Carnaval é uma festa que não suporta a tristeza, só a alegria do amor, das sensações. O carnaval transporta, quem deseja ser transportado para outro espaço de vibrações. Tem uma canção na qual uma folião distante diz “Recife está dentro de mim”, sendo que sua poesia está toda na descrição do carnaval, das pessoas com as quais viveu carnavais passados, transporta-se para o Recife, mas é o carnaval que está dentro dele, um Recife onde é possível ser feliz, mais feliz, talvez, do que o Recife no qual viveu. O carnaval é um “rio passa levando barcaças para o alto do mar” com a Harmonia Antiga das ruas nas quais os Ferreiras, Nelson e Ascenço, faziam a Introdução aos Catimbós de Água Fria. O carnaval parece ser o rito de celebração fundante da vida ou da civilização.

Embora exista em todos os quadrantes da civilização ocidental, esta festa parece estar a tornar-se uma segunda alma brasileira, algo definidor, se não do Brasil, talvez seja o que une as populações mestiças, quase que formando uma nação paralela. Recife, Salvador e Rio de Janeiro competem por ser o mais animado e maior dos carnavais, seguido de perto pela maior cidade nordestina na diáspora. Minas Gerais aparece na lista com Ouro Preto, mas perdendo espaço para Belo Horizonte, cidade dos tempos mais modernos e republicanos. Aliás, como esquecer que o carnaval que hoje temos é consequência desses dois grandes processos ainda não terminados: o da abolição da escravatura e a formação da República. Então a festa ancestral promove a lembrança da liberdade primeva, quando todos eram iguais, pois que essas igualdade e liberdade ansiadas não parecem fazer parte do ideário daqueles que promoveram o faz de conta da Abolição e o me engana da República. No carnaval quase que se abole as diferenças e promove-se a igualdade. Quase, dizemos, pois quando o olhar se dirige para os lados e os finais dos blocos, podem ser avistada uma multidão que carrega latas de cervejas a serem consumidas; outra multidão cata as latas que são jogadas ao vento após o consumo, na certeza que não ocorrerá o acúmulo excessivo do lixo, graças aos catadores. Sempre foi assim, dirá aquele spenceriano, acolitado pelos pastores que afirmarão “pobres sempre os tereis”. Na dita “quarta feira ingrata” abandona-se a igualdade, todos são carregados para o reino da liberdade e igualdade inalcançáveis. Começarão a ocorrer o tempo das happyhours nos fins de semana.

O carnaval faz parte da vida humana, a parte vivida com paetês, e não é a única que está sendo vivida no planeta que é carregado de outras vidas, as quais carregam outras obrigações para além da simulação da felicidade. O planeta e seus habitantes continuam a trajetória onde o carnaval não acontece. Quem deseja outra coisa além de uma “vida boa e não precisa pressa”, se o carnaval é uma enorme “casa de Noca” onde a “juventude dourada faz o que seus avós fizeram tempos atrás” em busca das “viuvinhas do artista James Dean”, essas “morenas tropicanas” carregadas dos sabores das manga rosa, dos sapotis e juás, com as peles macias e carne de caju, cujos beijos têm sabor de mel de uruçu e do caldo da cana caiana? Será o País da Coconha?

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