Archive for the ‘Independência do Brasil’ Category

Drama 9 – setembro 22; maio 88; maio 20

quinta-feira, maio 14th, 2020

“Caprichoso ( ….) não punha calma no pendor de querer sempre triunfante o seu alvitre. Desamava Conselhos. Quer isso dizer que temperamentalmente possuía minguados recursos para a função de reinar sem governar (…) da categoria a que deveria pertencer. Daí não vir jamais a compreender ou aceitar a engenhosa combinação do poder popular com as instituições…”

O texto acima é de Octávio Tarquínio de Sousa, na sua obra Vida de D. Pedro I, é sobre o objeto de suas pesquisas. Esse é um retrato do nosso primeiro governante após o rompimento dos laços estabelecidos pelo Reino do Brasil Unido ao Reino de Portugal e Algarves,  consequência de séculos de domínio português sobre o Brasil. Tal rompimento foi por ele assumido em um rompante próprio de sua personalidade mercurial, entretanto vinha sendo banhado em sangue desde o final do século XVIII, e foi  urdido pela ciência de José Bonifácio que fez a confusão entre o interesse de alguns com o interesse da pátria. Tudo isso parece ser uma das marcas que trazemos em nossa política. O voluntarismo de governantes que põem a sua vontade acima dos objetivos da nação, destes se aproveitando em momentos de confluência, sem contudo perder a oportunidade de afastar aqueles que não formam com sua orientação, desejo ou juízo. Esses governantes que povoam o tempo de nossa história são mantidos por uma aristocracia de proprietários de terras, clérigos de diversas igrejas (inicialmente eram apenas os católicos romanos), mais recentemente juntaram-se os industriais e banqueiros, esses e alguns  promotores de algumas ações paternalistas, de modo a manter a população subjugada a um patrão-pai. Assim formou-se o Estado brasileiro, uma nação, hoje com 220 milhões de habitantes, dos quais apenas cerca de 1/3 tem acesso aos bens culturais e civilizacionais, como está a nos provar a atual pandemia.

Em dois anos completar-se-á dois séculos do rompimento dos laços políticos e jurídicos que ligavam o Reino do Brasil ao Reino de Portugal e Algarves, mas quando este fato ocorreu, foi decidido que o novo Estado seria formado por duas grandes nações: a dos proprietários e seus acólitos bajuladores, mas só na medida em que sejam capazes de pensar como o chefe,  e manter distância dos interesses dos não proprietários.

Nas primeiras quatro décadas (1820-1850), a nação dos proprietários do novo Estado, viu-se em uma constante guerra contra a outra nação, até submetê-la, para então criar uma legislação garantidora do seu futuro, ainda que fosse obrigada a pôr fim à escravidão. Enquanto  isso não ocorria, buscou-se, entre os destituídos da Europa, o material humano para manter a submissão dos eternos insatisfeitos com a ordem que os prende à margem da nação, exceto em tempos eleitorais, de modo a confirmar a sua hegemonia. Mas o ato de votar, só veio a ser reconhecido como direito universal muito recentemente, pela Emenda nº 25  à Constituição de 1967, no ano de 1985. Contudo os governos que se seguiram falaram muito em “educação de qualidade”, e nenhum deles percebeu que deveriam preocupar-se com “educação de BOA qualidade”. E sem uma educação de BOA qualidade, mesmo que saiam da caverna, muitos para ela retornam, assim como os que saíram da escravidão do Egito, na primeira dificuldade, tiveram saudade da “sopa de cebola” que recebiam ao final de um dia extenuante de trabalho. Essa é uma das razões porque, após dois séculos do Brasil livre dos laços portugueses, estamos assistindo parte de nossa sociedade sonhando com o conforto das senzalas, das dádivas do tipo “peixe da semana santa”.

Neste dia que escrevo essas palavras, completa-se 132 anos do estabelecimento legal do fim da escravidão no Brasil, mas essa data não coincide com a decisão de unir as nações que formam o Estado Brasileiro, pois os libertos não viram a terra libertada. Os escravizadores da terra estão muito ativos, uma vez que, os que para o Brasil foram transplantados no final do século XIX, a eles se aliaram, tornaram-se eles, assumiram a sina de manter as nações separadas, parece que vieram para aprofundar as diferenças, e assumiram em realizar o passado crendo estar construindo o futuro.

Nos faltou uma educação de BOA qualidade para que os que saíram das matas, das senzalas. Sem essa educação estaremos sempre à ‘disposição’ dos voluntariosos que se apresentam como salvadores dos carneiros enquanto os encaminham para o matadouro.

Viva a República

domingo, novembro 18th, 2018

Vivemos tempos difíceis, segundo alguns, na véspera de um tempo de censuras ao pensamento crítico, da possibilidade da perda da liberdade de expressão do pensamento, uma vez que foi vitoriosa, na disputa pela presidência da República brasileira, uma chapa que tem claro viés de direita política, anticomunista e com claros sinais de que pouco entende de política externa, além de coloração nacionalista, solicitando o retorno do patriotismo. Mas essa chapa foi eleita por mais da metade dos brasileiros, natos ou de escolha eleitores, com idade superior a 16 anos, de maneira livre e aberta para o mundo. Ao escolher esses futuros dirigentes do país, esses brasileiros rejeitaram o modelo que vinha sendo aplicado desde o final do século passado. Veremos e experimentaremos nos próximos anos a que vai nos levar a decisão do último outubro. Se não der certo, por certo que a eleição de 2022, ano do centenário da independência política do Brasil, será uma oportunidade de nova mudança.

Mas esta é a semana da Proclamação da República do Brasil, celebrada no calendário, e com direito a feriado das atividades produtivas para que os cidadãos, os mesmos que, faz um mês, votaram para escolher quem dirigirá a República nos próximos quatro anos. Mas, quando vamos à rua e perguntamos a razão do feriado, são pouquíssimos os que sabem; como este é um saber do cidadão, presume-se que é função da escola republicana refletir e ensinar sobre o tema. Claro que os pais dos alunos, por serem cidadãos devem estar aptos para ensinar, transmitir os valores cívicos da pátria. Pais e filhos passaram, de alguma forma, algum tempo em escolas onde tais valores lhes foram ensinados. Assim, surpreende que muitos não saibam o que é a República e a razão do 15 de novembro ser um feriado. Inclusive não está fácil conversar sobre assuntos dessa natureza, assuntos sobre momentos da história do Brasil, sobre o significado de ser brasileiro, de gostar de símbolos da nação. Coisa quase démodé isso de patriotismo, pois este é o tempo da sociedade global e o comum é a crítica a esses símbolos nacionais gestados no século XIX. Amar o Brasil tem ficado difícil, pois nos dizem que é um país corrupto, e que a bandeira verde e amarela não tem significado, que o certo parece ser o vermelho. Quase ensina-se que é melhor procurar outro país, seja para morar seja para procurar ser cada vez mais parecido com ele. Neste país de corrupto, de violência, um país de povo machista, racista, homofóbico, de tradição europeia, de povo sem educação, que não sabe votar, não, não vale a pena viver, é o que parecem nos dizer celebridades que fizeram e fazem fortuna iludindo a esse povo e que, daqui fogem por causa da violência para lugares onde não existem esses pecados, essas insuficiências do povo brasileiro. Tais insuficiências, estão bem explicadas pelos intelectuais que são ou que vivem em países onde tais insuficiências humanas não existem. Talvez existam, mas eles gostam de lá mesmo assim. Lá eles comemoram o 14 de Julho, o 04 de julho, o Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial (tem até país que celebra a bravura dos soldados brasileiros na Guerra, esses brasileiros que não respeitados aqui no Brasil – recentemente um jovem de 20 anos cuspiu no rosto de um expedicionário chamando-o de fascista). De uns tempos para hoje não parece ser “politicamente correto” assumir que ama o Brasil.

Amar o Brasil não é desamar os demais povos, mas não amar o Brasil onde você nasceu, cresce e se torna adulto, é desamar de parte da humanidade, exatamente aquela lhe é mais próxima. Não parece ser possível conhecer o mundo sem saber andar nas ruas do seu bairro, celebrar a vitória dos povos e não conseguir ver as lutas do seu povo. Quer conhecer o mundo, quer ser cidadão do mundo, conheça sua aldeia, seja cidadão da sua aldeia, parecia dizer quem pensou a palavra COSMOPOLITA. Sabemos pouco dos humanos, de sua história; nos apaixonas por esse ou aquele povo por que ouvimos as histórias deles contadas com orgulho, mesmo sabendo que foram sanguinários, que roubaram povos e nações, que mentiram, mas as suas vidas construíram o país que seus bisnetos vivem. Assim são os heróis deles, assim são os nossos. O que difere é que nós conhecemos os heróis deles e eles conhecem os seus heróis e nós, talvez não conheçamos os nossos heróis. Nossos professores também não. Sabemos pouco de Ana Nery, de Henrique Dias, de Joaquim do Amor Divino, de José Bonifácio, de Machado de Assis, de José do Patrocínio, de Pereira da Costa, de Cruz de Rebouças, de Osvaldo Cruz, de Joaquim Nabuco, de Antônio Vicente Maciel, de Bárbara de Alencar, de Aimberê, de Antônio Faustino, Manuel Balaio, de Marcílio Dias, de Maria Quitéria, Apolônio Sales, de Ulisses Pernambucano, de João Ubaldo, de Érico Veríssimo, e muitos outros.

Sabemos tão pouco de nós, e por preguiça, continuaremos a saber mais dos outros e continuaremos a ter vergonha da bravura que desconhecemos em nosso povo.

A Pátria, a Nação em construção

sexta-feira, setembro 7th, 2018

A Semana da Pátria, período que deveria ser dedicado a reflexão sobre a nação, este ano traz novas razões para debruçar-me sobre ela. Nas nuvens da memória, lembro que havia uma pequena poesia no livro Infância Brasileira, que eu usei ainda nas primeiras séries; não lembro dos versos, mas do sentimento que eles comunicavam, que eram de louvor ao ato ocorrido no distante riacho Ipiranga e ao autor do gesto. Creio que o tive decorado até quando alcancei o Primeiro Ano Ginasial, hoje a famosa Quinta Série. Esse sentimento romântico vem até agora, mesmo depois de todos os encaminhamentos dados pela razão, pelos estudo históricos que tenho realizado, acompanhado por mestres e alunos. E tendo aprendido que o príncipe não era tão perfeito e bonito moralmente, não diminuiu o meu sentimento por aquele gesto simples, mas que foi tornado brilhante e permanente na tela de Pedro Américo. Hoje sei que havia uma mulher, dona Leopoldina que, desde o segundo dia de setembro de 1822, havia decidido a superação dos ligamentos a Portugal e tomado a decisão de que o Brasil passaria a ser dono de seu presente e futuro. Aprendi que na construção do Brasil, o príncipe que assumiu a decisão de Dona Leopoldina, cometeu alguns senões aqui em Pernambuco, não reconhecendo que havia se excedido em dissolver a Assembleia Constituinte. E, entretanto a nação foi sendo juntada, ajustada, com revoltas, traições, mortes e acordos. Nem sempre, talvez quase nunca, esses acordos levaram em consideração todos os habitantes do Brasil. A escravidão, como nos ensinou Joaquim Nabuco, foi prejudicial para os senhores de escravos e para os escravos. Aos primeiros ensinou a não ouvir além de suas vozes e, aos segundos criou impedimentos às palavras, aos gestos, aos movimentos. E, quando teve início a construção da República, esses maus hábitos permaneceram e mantiveram as distâncias entre os brasileiros, o que levou a maioria entender que o Brasil não é deles.

Na Semana da Pátria deste ano de 2018, são muitos os acontecimentos que me auxiliam a pensar no que fizemos, estamos fazendo e iremos fazer com a nossa nação. A semana começou com o incêndio do Museu Nacional, local da guarda de substancial parte material de nossa história nacional, mas também de importante volume de informações sobre a trajetória da humanidade, como demonstravam as múmias egípcias compradas pelo príncipe que confirmou o decreto de Dona Leopoldina, e outros artefatos que estavam guardados no palácio que foi construído por um comerciante de escravos (parte dolorosa de nossa história que deve ser aceita e não negada, mas aceita para nos fazer livres)e que veio a ser moradia dos Imperadores, mas que, após o saque ocorrido nos primeiros dias da República, foi tornado Museu. O incêndio do Museu Nacional tornou público, mais uma vez, o descaso com o nosso passado, com a nossa história. O mais triste é que estava sob a guarda da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sabemos o quanto os historiadores, antropólogos, biólogos, físicos, e tantos outros estudiosos amavam e amam esse local, mas vimos que, quando alguns professores tornam-se, por oferecimento ou por escolha, burocratas responsáveis por esses equipamentos culturais, ficam insensíveis e não cuidam devidamente do que lhes foi confiado pela Nação, nem acham que devem explicações aos demais brasileiros. Como se não interessasse aos brasileiros o que ocorre com o seu patrimônio, ou, porque esses administradores não sentem que ali está a vida de sua nação. Talvez não se sintam parte dessa nação, talvez tenham outras fidelidades nacionais ou ideológicas. Embora a ação desses péssimos gerentes tenha afetado negativamente nossa Nação e Pátria, podemos aproveitar a oportunidade para ter mais atenção na transmissão dos valores cívicos.

A Semana da Pátria deste ano de 2018, assistiu a tentativa de assassinato de um candidato à presidente da República, em uma rua da cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais. Esse acontecimento mostra o quanto nossa sociedade está sendo movida por sentimentos pouco sociáveis, de pouco apreço às leis e aos costumes sancionados, a incerteza da aplicação das leis e a quase certeza da impunidade. Alguns até chegam a solicitar intervenção de instituições externas para garantir direitos individuais, sem considerar que o portador de direitos é, também portador de deveres para com a nação, a pátria e aos seus compatriotas.

Uma nação é construída a cada dia, pois deve ser diária a aceitação de ser parte de uma nação, de um país. Quando esse país aceita a democracia representativa para sua organização e governo, todos que dele fazem parte escolhem quem ficará à frente da caminhada por algum tempo. É para isso que são realizadas periodicamente as eleições. Mas um país é formado por pessoas que pensam de modo semelhante, mas não por igual. Por isso é que são criados partidos que agregam pessoas que pensam de maneira semelhante para apresentar sua proposta à sociedade. É por isso que há tantos partidos, embora no nosso caso parece estar havendo um excedente que pode ser percebido pela ausência de projetos na maior parte desses partidos que, parece terem surgidos com o objetivo de utilizar o espaço democrático para seu enriquecimento pessoal. Alguns não conseguem esconder esse defeito que é da sociedade. Esta Semana da Pátria que, ao lado das cerimônias oficiais, temos que lembrar os que têm sido permanentemente excluídos das conquistas sociais e culturais. Este ano, mais que em outros, devemos nos perguntar quem escolheremos para orientar os passos da nação nos próximos anos, mas devemos levar em consideração que esses quatro anos serão novo início da nossa construção, mas desejamos que haja continuidade e não apenas ruptura.

Águas de Março e Rosas de Abril

sábado, abril 21st, 2018

Águas de Março e Rosas de Abril

O que escrever neste mês de abril, tão cheio de história, de acontecimentos que marcaram o percurso do povo brasileiro? Claro que se pode dizer o mesmo de quase todos os meses do ano, mas o início do outono parece ter sido muito marcante. Foi neste mês que nossos antepassados nativos desta parte geográfica da terra viram a chegada dos antepassados europeus. Foi momento de surpresa para ambos, e o tempo encarregou-se de mostrar a desigualdade nas relações entre eles. Uns ingênuos, outros controladores de alguns saberes construídos por séculos de experiências de muitos povos e culturas; uns abertos para a aceitação das novidades, outros interessados em tomar para si tudo de novo que encontravam.

Anos mais tarde, quando outros povos chegaram trazidos à força para aqui viverem como bestas, já restavam poucos nativos nas terras que lhes tomaram os europeus. As novas tecnologias mudaram os ritmos dos tempos e dos movimentos, e criam novos povos. Que se fazem em lutas, como a de abril de 1645 na Batalha dos Guararapes, outono da presença holandesa em Pernambuco e primavera da possibilidade de novos tempos, ainda sonhados de cooperação e igualdade entre as nações fundadoras.

Outro momento que foi escolhido para marcar a nação é o enforcamento do Alferes Silva Xavier, conhecido como Tiradentes, atividade que o tornava conhecido nas serras das Gerais. Embora Capistrano de Abreu não veja grande consequência naqueles acontecimentos, desde a ascendência do exército na vida política, que o Alferes vem sendo cultivado como herói. Assim, o outono de 1789, fica como marca fundante da nação. Alguns anos depois, em 1817, o outono foi marcado pela Revolução de 1817 que, embora tenha sido iniciada no mês de março, é ao longo de abril que se vive plenamente, pela vez primeira, o sentimento de República, representado pela supressão de tratamento que de note superioridade social entre os pernambucanos: todos são cidadãos.~

Abril de 1831 marca o fim do governo daquele que esmagou, com ódio, a Confederação do Equador, república nascida em Pernambuco, filha de 1817. Festas tomaram as ruas do Rio de Janeiro para celebrar a saída do último português que governava o Brasil. Durante anos o 7 de abril foi celebrado como a festa da Independência, pois é uma data que nos lembra a queda do tirano, dessa festa é que veio o Hino Nacional Brasileiro.

Abril de 1964 trouxe uma sequência de ditadores militares, mas a este abril parte da sociedade resistiu enquanto outra parte queria sua continuação. Venceu os que queríamos a República de volta. Com seu retorno vieram a assumir o poder os que desejavam continuar a ditadura e alguns que queriam outra ditadura. Precisamos estar atentos e recusar qualquer proposta de poder pessoal (em alguns casos esses indivíduos não permitem a emergência de nenhuma outra liderança). O Sete de Abril continua sendo uma data a ser celebrada.

Com as Águas de Março que fecham o verão, cultivemos As Rosas de Abril, com suas auroras de Liberdade.
Biu Vicente

Jerimum com leite e minha Pátria

quinta-feira, setembro 7th, 2017

Faz cinco anos da morte de minha mãe, e na manhã de 5 de setembro lembrei do jerimum com leite e açúcar que, algumas manhãs ela nos servia como primeira refeição do dia. Veio a lembrança enquanto eu cortava e descascava o São Tomé para a minha primeira refeição. Mamãe não entendia de política, mas sabia o que era bom para a saúde de seus filhos e nos ensinou o que é ser uma pessoa humana, alguém que, embora sabendo-se imperfeita e tendente ao egoísmo, é capaz de superar esses pequenos e grandes limites. Ela nos ensinou que há o bem e o mal, e que devemos optar pelo bem. E o bem é que queremos para nós e o que queremos para nós só é bem mesmo, se for bom para os outros. É uma senda para a vida.

Nos últimos dias temos aprendido que a geração que chegou ao poder no início deste século, embora convencesse a muitos com seu discurso de desprendimento e de doação aos pobres, de compromisso com a Pátria Mãe gentil brasileira, garantindo que iria mudar o Brasil, não cumpriu a promessa. Fez reformas cosméticas, exteriores, “dourando a pílula”, mas aprofundou a prática de apropriar-se das riquezas produzidas pelo povo brasileiro.

Agora, quando o século completa 17 anos e o Brasil 195, notamos que a pouca atenção que é dada a esta data. Na segunda metade do século XX, o Brasil viveu uma ditadura, essa maneira de governar que nega ao povo o direito de sua fala, o direito de debater e participar da vida política; foi um período em que militares e civis governaram, conjuminadamente, sem considerar o desejo dos brasileiros, cuidando apenas de seus interesses. Quando conseguimos afastar os ditadores, talvez tenhamos cometido o erro de confundir a ditadura com o Brasil e, parece que, como se conta em uma história, “jogou-se a água suja com o menino na bacia”. O segundo ano do século XXI seria o início de um novo tempo, um tempo como “nunca antes houve neste país”.

Por razões múltiplas, quisemos e fizemos o esquecimento do Brasil. Começamos achar ridículo considerar-se brasileiro, amar a pátria passou a ser sinônimo de gente do passado, ou de “direita”, enquanto ser gente atual era amar a “pátria grande”. Perdemos o amor da pátria. Acreditamos, de verdade, no que disse um poeta um poeta durante a ditadura: “melhor seria ser filho da outra”. E cuidamos, como fizeram os portugueses à Felipe dos Santos e Joaqim José da Silva Xavier, Manoel Justino, João de Deus et alli, no tempo em que dominavam esse pedaço da América, esquartejamos nossa realidade e passamos a conversar e refletir a partir dos pedaços, confundindo-os com o todo. De tanto não querer nosso passado, Imperial e Republicano, passamos a nos ver como se vê a potência a que se diz recusar. E começamos a apartar os pedaços e, com a justificativa de que estávamos buscando a identidade, libertar os inconscientemente dominados, fomos largando o que nos unia, aprofundando o fosso econômico e social, como nos mostram os bairros/cidades afastados, esses condomínios de luxo, bem como os muros altos das cidades, externação da distopia em que nos metemos seguindo quem prometia a utopia do paraíso. Perdemos a identidade que tínhamos.

Depois que tanto nos roubaram aliando-se aos que sempre nos roubaram (parece que com mais parcimônia), ajudaram a roubar a riqueza que produzimos. E depois que nos ensinaram a não amar a Pátria, depois de nos ensinarem a não respeitar nossas tradições, transformando-as em mercadorias e razões de espetáculos, será que só nos resta “ser filho da outra”?

Embora a mim tenha mais sabor de liberdade celebrar o 5 de outubro de 1821, neste Sete de Setembro, quando o Brasil completa 195 anos de existência, vou cantar o verso que aprendi antes dos dez anos, no tempo em que comer jerimum machucado com leite e açúcar fazia parte da refeição matinal de muitos brasileiros da área rural: Houve mãos mais poderosas, zombou deles o Brasil.